o nosso tema

 

Comunidade
Cristã
Novembro 2012

Ano da fé 2012-2013

Reflectir e aprofundar a fé

numa sociedade secularizada

 

 

 

A "secularização" não nos deve meter medo

Se nos nossos países tradicionalmente cristãos, existe o fenómeno da secularização, isso não nos deve fazer desanimar, mas antes renovar em nós o espírito missionário. Temos de olhar o mundo de hoje com os olhos de Deus. Este mundo que é amado por Deus. Ele vê nele, na diversidade dos povos, culturas e religiões, o mundo dos Seus filhos. É a família humana, e Ele é o Pai. E o traço desta paternidade é o amor, que habita no coração de cada ser humano. Nós, cristãos, sabemos, pela revelação, que o amor vem de Deus, que o próprio Deus é Amor. O que é que podemos fazer para que as pessoas de hoje o reconheçam? Essa foi a missão de Jesus. Essa é hoje a nossa missão.

O Concílio Vaticano II apresentou a Igreja como sacramento da união das pessoas com Deus e das pessoas entre si. Um sacramento é uma realidade do mundo, que desvenda o mistério da redenção e o realiza. Pode a nossa Igreja, que não é deste mundo, estar realmente neste mundo? Ela é visível, mas será que as pessoas entendem a sua mensagem? Do mesmo modo, nós não somos sinais da Igreja, mas sinais de Cristo, e é assim que seremos Igreja: reflexo da luz de Cristo e da sua Palavra, anunciadores vivos do hoje da fé em palavras de ontem.

Lembro-me de uma palavra do Cardeal Suhards, o fundador da Missão de França: "Não se trata de obrigar o mundo a entrar na Igreja como ela é, mas sim de tornar a nossa Igreja capaz de acolher o mundo como ele é". Que alegria não é o levar a boa nova de Jesus ás mulheres e homens do nosso tempo, aos jovens e crianças, que muitas vezes nem imaginam que estão tão perto da Fonte!

Yves PATENÔTRE, Arcebispo de Sens (França), no Sínodo

 

Sonhar com um regresso aos tempos de cristandade é uma tentação e uma ilusão

A Igreja no mundo de hoje tem a tarefa de anunciar às pessoas de hoje o Evangelho. Nos últimos 50 anos, falamos de "mundos" em vez de "mundo": estamos num mundo globalizado, mas ao mesmo tempo dividido. Daí a tarefa fundamental da unidade: a unidade das sociedade, das pessoas e também da Igreja.

Pelo menos nos países ocidentais, a Igreja, em 2012, é diferente da sociedade: está presente nela, mas não a abrange completamente. E como Jesus está interessado em ouvir o que as pessoas dizem dele - "Quem dizem as pessoas que eu sou?" (Mt 16,13) - também a Igreja tem de ouvir o que dela se diz: não é tanto ela que se dá uma identidade a si mesma, mas ela recebe-a: em primeiro lugar do seu Senhor, mas também do modo como as pessoas a vêem.

O mundo mudou, e assim mudou também o lugar de valor que a Igreja ocupa no mundo.
Sonhar com um regresso aos tempo de cristandade é uma tentação, uma ilusão, apoiada na sacralização de uma determinada forma histórica da presença da Igreja católica.
A Igreja não tem de ter medo de mostrar-se ao mundo, de se expor ao olhar da sociedade. Nas suas instituições e finanças, tem de fazer afirmações claras de um testemunho plausível e credível. Trata-se de olhar em frente, viver e anunciar aquilo e aquele que faz a alegria da Igreja: o seu Senhor.

Pascal WINTZER, arcebispo de Poitiers (França), no Sínodo 2012

O desafio dos tempos modernos:
Ajudar as pessoas a descobrir os traços de Deus nas suas vidas!


Já desde antes dos anos 60 do século passado, estão em curso nos países da Europa central e ocidental processos de transformação social que se costumam designar-se com palavras como "modernização" e "secularização". Designam transformações e mudanças profundas, que atingem todos os aspectos da vida, e de modo especial a dimensão religiosa.

São processos de mudança nas experiências fundamentais da vida humana, em que o indivíduo deixa de assumir sem mais tradições recebidas, mas é desafiado a decidir-se pessoalmente. Esta exigência de uma decisão pessoal constitui uma chance para a nova evangelização.

Há uma procura interior de sentido que não morreu na modernidade, só que muitas vezes é simplesmente passado para segundo lugar e abafado por ruídos mais fortes, mas que se manifesta sempre de novo.

Nova evangelização quer dizer, por isso mesmo: ajudar as pessoas a por a descoberto este "filão de água" da fé! Acompanhá-las e ajudar a descobrir os traços da presença de Deus na sua vida de todos os dias. Trata-se desta procura comum de uma verdade sempre mais profunda. E nesta procura comum, o mais importante é possibilitar às pessoas a experiência do amor generoso de Deus através de todo o nosso comportamento.

Robert Zollitsch
arcebispo de Freiburg e presidente da Conferência Episcopal Alemã no Sínodo dos Bispos 2012

 

Testesmunhar a amizade de Deus

Os desafios da liberdade! No encontro com os nossos contemporâneos, crentes e não crentes, temos de testemunhar sobretudo a amizade de Deus para com as pessoas, e não tanto dar respostas a perguntas que muitas vezes não são feitas de modo correcto. Temos de deixar-nos conduzir pela paciência de Deus, que confia que as pessoas aprendem a viver a sua liberdade à altura da sua dignidade; temos de reconhecer a misericórdia de Cristo, que nos precede.

P. Bruno CADORÉ, O.P., Superior dos Dominicanos, no Sínodo

 

Nova Evangelização:
o desafio de viver e anunciar a fé numa sociedade secularizada

Num primeiro momento, a nova evangelização responde a um pergunta que a Igreja deve ter a coragem de se colocar, para ousar um recomeço da sua vocação espiritual e missionária. É necessário que as comunidades cristãs, marcadas pelos influxos que as actuais fortes mudanças sociais e culturais estão a exercer nelas, encontrem as energias e os caminhos para se voltarem a ancorar de modo sólido na presença do Ressuscitado que as anima a partir de dentro. (46)
Os sinais deste contexto sobre a experiência de fé e sobre as formas de vida eclesial foram descritos em modo muito semelhante em todas as respostas: debilidade da vida de fé das comunidades cristãs, redução do reconhecimento da autoridade do magistério, privatização da pertença à Igreja, diminuição da prática religiosa, desempenho na transmissão da própria fé às novas gerações. (48)

Neste quadro, a nova evangelização quer ressoar como um apelo, como uma pergunta da Igreja a si mesma, para que concentre as próprias energias espirituais e se empenhe neste novo ambiente cultural para ser propositiva: reconhecendo também o bem que existe dentro destes novos cenários, dando nova vitalidade à própria fé e ao seu empenho evangelizador. O adjectivo "nova" refere-se à transformação do contexto cultural e remete para a necessidade da Igreja recuperar as energias, a vontade, a frescura e o engenho no seu modo de viver a fé e de a transmitir (49)

Radicada de modo particular no mundo ocidental, a secularização é fruto de episódios e movimentos sociais e de pensamento que marcaram em profundidade a história e a identidade. Ela apresenta-se hoje nas nossas culturas através da imagem positiva da libertação, da possibilidade de imaginar a vida do mundo e da humanidade sem referência à transcendência. Nos últimos anos não se verifica tanto a forma pública dos discursos directos e agressivos contra Deus, a religião e o cristianismo, (...): ela assumiu um tom bem mais débil que permitiu a esta forma cultural de invadir a vida quotidiana das pessoas e de desenvolver uma mentalidade em que Deus está verdadeiramente ausente, em tudo ou em parte, e a sua própria existência depende da consciência humana. (52)

(Sínodo dos Bispos 2012, Instrumentum Laboris)

Comunidade Cristã 11 2012

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