A
"secularização" não nos deve meter medo
Se
nos nossos países tradicionalmente cristãos, existe o fenómeno
da secularização, isso não nos deve fazer desanimar, mas
antes renovar em nós o espírito missionário. Temos de olhar
o mundo de hoje com os olhos de Deus. Este mundo que é amado por Deus.
Ele vê nele, na diversidade dos povos, culturas e religiões, o mundo
dos Seus filhos. É a família humana, e Ele é o Pai. E o traço
desta paternidade é o amor, que habita no coração de cada
ser humano. Nós, cristãos, sabemos, pela revelação,
que o amor vem de Deus, que o próprio Deus é Amor. O que é
que podemos fazer para que as pessoas de hoje o reconheçam? Essa foi a
missão de Jesus. Essa é hoje a nossa missão.
O
Concílio Vaticano II apresentou a Igreja como sacramento da união
das pessoas com Deus e das pessoas entre si. Um sacramento é uma realidade
do mundo, que desvenda o mistério da redenção e o realiza.
Pode a nossa Igreja, que não é deste mundo, estar realmente neste
mundo? Ela é visível, mas
será que as pessoas entendem a sua mensagem? Do mesmo modo, nós
não somos sinais da Igreja, mas sinais de Cristo, e é assim que
seremos Igreja: reflexo da luz de Cristo e da sua Palavra, anunciadores vivos
do hoje da fé em palavras de ontem.
Lembro-me
de uma palavra do Cardeal Suhards, o fundador da Missão de França:
"Não se trata de obrigar o mundo a entrar na Igreja como ela é,
mas sim de tornar a nossa Igreja capaz de acolher o mundo como ele é".
Que alegria não é o levar a boa nova de Jesus ás mulheres
e homens do nosso tempo, aos jovens e crianças, que muitas vezes nem imaginam
que estão tão perto da Fonte!
Yves
PATENÔTRE, Arcebispo de Sens (França), no Sínodo
Sonhar
com um regresso aos tempos de cristandade é uma tentação
e uma ilusão
A
Igreja no mundo de hoje tem a tarefa de anunciar às pessoas de hoje o Evangelho.
Nos últimos 50 anos, falamos de "mundos" em vez de "mundo":
estamos num mundo globalizado, mas ao mesmo tempo dividido. Daí a tarefa
fundamental da unidade: a unidade das sociedade, das pessoas e também da
Igreja.
Pelo menos
nos países ocidentais, a Igreja, em 2012, é diferente da sociedade:
está presente nela, mas não a abrange completamente. E como Jesus
está interessado em ouvir o que as pessoas dizem dele - "Quem dizem
as pessoas que eu sou?" (Mt 16,13) - também a Igreja tem de ouvir
o que dela se diz: não é tanto ela que se dá uma identidade
a si mesma, mas ela recebe-a: em primeiro lugar do seu Senhor, mas também
do modo como as pessoas a vêem.
O
mundo mudou, e assim mudou também o lugar de valor que a Igreja ocupa no
mundo.
Sonhar com um regresso aos tempo de cristandade é uma tentação,
uma ilusão, apoiada na sacralização de uma determinada forma
histórica da presença da Igreja católica.
A Igreja não
tem de ter medo de mostrar-se ao mundo, de se expor ao olhar da sociedade. Nas
suas instituições e finanças, tem de fazer afirmações
claras de um testemunho plausível e credível. Trata-se de olhar
em frente, viver e anunciar aquilo e aquele que faz a alegria da Igreja: o seu
Senhor.
Pascal
WINTZER, arcebispo de Poitiers (França), no Sínodo 2012
O
desafio dos tempos modernos:
Ajudar as pessoas a descobrir os traços
de Deus nas suas vidas!
Já
desde antes dos anos 60 do século passado, estão em curso nos países
da Europa central e ocidental processos de transformação social
que se costumam designar-se com palavras como "modernização"
e "secularização". Designam transformações
e mudanças profundas, que atingem todos os aspectos da vida, e de modo
especial a dimensão religiosa.
São
processos de mudança nas experiências fundamentais da vida humana,
em que o indivíduo deixa de assumir sem mais tradições recebidas,
mas é desafiado a decidir-se pessoalmente. Esta exigência de uma
decisão pessoal constitui uma chance para a nova evangelização.
Há uma procura
interior de sentido que não morreu na modernidade, só que muitas
vezes é simplesmente passado para segundo lugar e abafado por ruídos
mais fortes, mas que se manifesta sempre de novo.
Nova
evangelização quer dizer, por isso mesmo: ajudar as pessoas a por
a descoberto este "filão de água" da fé! Acompanhá-las
e ajudar a descobrir os traços da presença de Deus na sua vida de
todos os dias. Trata-se desta procura comum de uma verdade sempre mais profunda.
E nesta procura comum, o mais importante é possibilitar às pessoas
a experiência do amor generoso de Deus através de todo o nosso comportamento.
Robert
Zollitsch
arcebispo de Freiburg e presidente da Conferência Episcopal
Alemã no Sínodo dos Bispos 2012
Testesmunhar
a amizade de Deus
Os
desafios da liberdade! No encontro com os nossos contemporâneos, crentes
e não crentes, temos de testemunhar sobretudo a amizade de Deus para com
as pessoas, e não tanto dar respostas a perguntas que muitas vezes não
são feitas de modo correcto. Temos de deixar-nos conduzir pela paciência
de Deus, que confia que as pessoas aprendem a viver a sua liberdade à altura
da sua dignidade; temos de reconhecer a misericórdia de Cristo, que nos
precede.
P.
Bruno CADORÉ, O.P., Superior dos Dominicanos, no Sínodo
Nova
Evangelização:
o desafio de viver e anunciar a fé numa
sociedade secularizada
Num
primeiro momento, a nova evangelização responde a um pergunta que
a Igreja deve ter a coragem de se colocar, para ousar um recomeço da sua
vocação espiritual e missionária. É necessário
que as comunidades cristãs, marcadas pelos influxos que as actuais fortes
mudanças sociais e culturais estão a exercer nelas, encontrem as
energias e os caminhos para se voltarem a ancorar de modo sólido na presença
do Ressuscitado que as anima a partir de dentro. (46)
Os sinais deste contexto
sobre a experiência de fé e sobre as formas de vida eclesial foram
descritos em modo muito semelhante em todas as respostas: debilidade da vida de
fé das comunidades cristãs, redução do reconhecimento
da autoridade do magistério, privatização da pertença
à Igreja, diminuição da prática religiosa, desempenho
na transmissão da própria fé às novas gerações.
(48)
Neste quadro,
a nova evangelização quer ressoar como um apelo, como uma pergunta
da Igreja a si mesma, para que concentre as próprias energias espirituais
e se empenhe neste novo ambiente cultural para ser propositiva: reconhecendo também
o bem que existe dentro destes novos cenários, dando nova vitalidade à
própria fé e ao seu empenho evangelizador. O adjectivo "nova"
refere-se à transformação do contexto cultural e remete para
a necessidade da Igreja recuperar as energias, a vontade, a frescura e o engenho
no seu modo de viver a fé e de a transmitir (49)
Radicada
de modo particular no mundo ocidental, a secularização é
fruto de episódios e movimentos sociais e de pensamento que marcaram em
profundidade a história e a identidade. Ela apresenta-se hoje nas nossas
culturas através da imagem positiva da libertação, da possibilidade
de imaginar a vida do mundo e da humanidade sem referência à transcendência.
Nos últimos anos não se verifica tanto a forma pública dos
discursos directos e agressivos contra Deus, a religião e o cristianismo,
(...): ela assumiu um tom bem mais débil que permitiu a esta forma cultural
de invadir a vida quotidiana das pessoas e de desenvolver uma mentalidade em que
Deus está verdadeiramente ausente, em tudo ou em parte, e a sua própria
existência depende da consciência humana. (52)
(Sínodo
dos Bispos 2012, Instrumentum Laboris)