Declaração
conjunta das Igrejas Católica, Evangélica e Ortodoxa para a Semana
Intercultural 2012
Sê
bem vindo, quem quer que tu sejas! Esta forma de falar, directa e habitual, é
uma provocação. Para fazer pensar. É um desafio a toda a
sociedade. Como é que vivemos em conjunto? Em que valores assenta o nosso
convívio? Como é que os defendemos? São estas e outras perguntas
que queremos colocar-nos e reflectir. Só assim podemos desenvolver a coesão
e a abertura de que necessitamos num sociedade pluralista. Base e ponto de partida
para toda a reflexão tem de ser a dignidade de cada um e os direitos que
nela se fundamentam.
Muitas
vezes as pessoas vivem umas ao lado das outras e não umas com as outras.
Não só as pessoas com biografia de migrante e os "naturais"
daqui, mas também outros grupos da sociedade vivem sem qualquer contacto
entre si. Somos convocados a ir ao encontro uns dos outros, com interesse e abertura,
e reconhecer no Outro, no que está à minha frente, em primeiro lugar
uma criatura de Deus.
Trata-se
de ir uns ao encontro dos outros - com respeito e interesse pelos diferentes,
na abertura para com estrangeiros e estranhos. Só assim podemos criar algo
em comum: entre os que já aqui vivem há muito tempo e os que chegam
de novo; entre os que estão no centro da sociedade e os que são
empurrados para a margem e que quase não têm meios de participação.
Ir ao encontro uns dos outros: oportunidades não faltam - desde o jardim
infantil, à escola, à vida profissional, na mudança de residência
ou de lugar de trabalho.
Na
Carta aos Gálatas, do Novo Testamento, lemos de uma comunidade em que pessoas
diferentes na sua origem ou na sua posição social conseguem viver
em conjunto. O apóstolo Paulo escreve: "Não há judeu
nem grego, não há escravo nem livre, não há homem
nem mulher; somos um só em Jesus Cristo" (Gal 3,28). Perante a realidade
transformadora de Deus, nós, cristãs e cristãos, somos chamados
a ser exemplo desta comunhão, mesmo se isso parece difícil no dia
a dia. Para além disso, temos a missão de dar forma à sociedade
e contribuir para que ninguém seja posto de lado em virtude da sua origem
étnica ou social
A
semana intercultural deve oferecer também ocasião de enfrentar as
experiências concretas de discriminação e dar a palavra aos
migrantes para que nos falem delas. Assim pode crescer a sensibilidade necessária
para o convívio de pessoas de diferentes origens. Que experiência
fazem as pessoas de côr? Com que formas de racismo, aberto ou discreto,
se confrontam as pessoas de outras origens culturais? Que passos concretos podemos
dar para uma sociedade aberta, livre e democrática? Apelamos a que neste
ano se tematizem de modo muito especial estas questões.
"Sê
bem vindo, quem quer que tu sejas". No debate sobre a integração
e a imigração apercebemo-nos muitas vezes de uma afirmação
bem diferente: "Sê bem-vindo - quem nos pode ser útil".
Esta redução não está em sintonia com os valores fundamentais
da nossa sociedade nem com as maneiras de ver da nossa fé. Desde há
muitos anos que as Igrejas se empenham a favor de um direito de estadia generoso
para os que aqui estão há muito tempo em regime de tolerância,
ou então também para os velhos, doentes e educadores monoparentais.
Pedimos aos políticos que coloquem este tema na sua agenda de trabalhos
e que defendam uma nova legislação no que diz respeito ao direito
de permanência.
Cada
vez se torna mais claro que num mundo globalizado não só a Alemanha
mas toda a Europa se encontram perante o desafio de coordenar a migração
e o acolhimento dos refugiados. Para as Igrejas é uma questão importante
que se respeitem os direitos humanos dos refugiados nas fronteiras da Europa.
Os grandes países do centro da Europa não podem sacudir as suas
responsabilidades para com os refugiados para cima dos países da periferia
ou mesmo para os países com fronteiras comuns com a União Europeia.
De um ponto de vista humanitário, ético e jurídico é
difícil de suportar que haja milhares de pessoas que, a caminho da Europa,
são humilhadas, presas, repatriadas injustamente ou mesmo que perdem a
sua vida.
"Sê
bem vindo, quem quer que tu sejas". A semana intercultural, com as muitas
actividades que propõe, é, de ano para ano, um sinal vivo de que
estamos no bom caminho para a criação de uma cultura do acolhimento.
Agradecemos a todos os que nela se empenham e desejamos as melhores experiências
e a bênção de Deus para os seus empenhamentos.
Arcebispo
Dr. Robert Zollitsch (presidente da Conferência Episcopal alemã)
Nikolaus
Schneider (presidente do Conselho da Igreja Evangélica alemã)
Metropolita
Augoustinos (Igreja Ortodoxa Grega)
Texto
abreviado (Traddução Jn)
Versão
completa em http://www.interkulturellewoche.de